Vinda das fazendas aos arredores de Batatais, Maria Aparecida Boraneli chegou a Ribeirão Preto para dar sequência aos estudos. Filha do meio, venceu os obstáculos com trabalho e pagamento do próprio estudo. Sua história no Moura Lacerda teve início em 1966 quando entrou na Instituição, na época conhecida como “Faculdade de Ciências Econômicas de Ribeirão Preto” e localizada à rua Duque de Caxias para fazer o ensino normal (também conhecido como Magistério). Seu objetivo era o de realizar o sonho de se tornar professora e assim o fez. Educadora por quase 25 anos Maria Aparecida agradece ao Moura Lacerda pela educação de qualidade e pelas melhores lembranças de sua vida.

Em que ano entrou no Moura Lacerda?
Foi em 1966. Lá fiquei três anos e cursei o segundo grau. Na época, o ensino era chamado de Normal (Magistério)

Como você chegou ao Moura Lacerda?
Vim de uma família muito humilde e meus pais não tinham condições de pagar uma escola. Com isso, não se tinha muita escolha. No primeiro grau estudei na Associação de Ensino, conhecido como Colégio Duque de Caxias. Na ocasião, a dona era prima da minha mãe e então fiquei até o ginásio gratuitamente.  Quando terminei a quarta série do ginásio (oitava série) eu já trabalhava o dia todo, o ‘Normal’ não existia no período da manhã e eu não tinha condições de pagar.  Meu sonho, desde criança, sempre foi ser professora. Eu amo ser professora e me aposentei depois de 25 anos. Encontrei o Moura Lacerda e suas condições me possibilitaram estudar. Eu mesma paguei meus estudos e ainda ajudei em casa. Foi uma época muito feliz. Amei, amei, amei e tenho em minha memória tudo que eu vivi. 

Qual a sensação de ter passado três anos na Instituição Lacerda? Como era a relação alunos, funcionários e professores?
Fui muito bem acolhida, muito bem recebida. Os professores eram excelentes educadores e amigos. Tenho maravilhosas recordações da professora Amarílis de português, do professor Palma de Matemática, do doutor “Oscarzinho” além do professor de canto, o Tom. A gente trabalhava musicalidade e outras técnicas. Lembro-me até de uma música que ele nos ensinou, há 44 anos.

“Vento que balança nas praias os coqueiros
Vento que encrespa as ondas do mar
Vento que assanha os cabelos da morena, me traz saudades de lá…”

Ele era ótimo.

Como eram suas amizades?
Sempre me dei bem com todos, por isso tinha muitos colegas e os amigos do coração, em especial a Nair. Ela estudou comigo e inclusive morava perto da minha casa. Não demorou para que virássemos comadres. Recebi o convite para ser madrinha da filha dela e fiquei muito emocionada. 

Existe algum fato que mais te marcou nestes anos de estudante? Qual foi?
Tem sim. Eu digo sempre que quem não vive verdadeiramente os acontecimentos simplesmente não tem história. A minha começa quando em um dia organizamos um debate de matemática entre classes. Eu não era muito boa em exatas, mas eu me preparei tanto, mas tanto, que eu me senti apta para participar. Como sempre trabalhei, chegava em cima da hora. Justo naquele dia o ônibus atrasou cinco minutos e quando cheguei, não consegui entrar. Estava acompanhada de minhas amigas. O porteiro Basilio, já senhorzinho, sempre muito firme e correto, não deixava passar nada. Tentamos conversar, falar do atraso do ônibus, mas não adiantou. Ficamos muito tristes, pois queríamos fazer parte, mas infelizmente não deu.
Eu ia embora para casa, mas a Nair e as outras garotas me chamaram para ir ao cinema. Eu não tinha dinheiro, mas com muita insistência e um pequeno ‘empréstimo’, elas me convenceram. Fomos ao cine São Jorge, mas estava lotado e então nos dirigimos para o São Paulo, que funcionava na rua São Sebastião, e lá ficamos. Assistimos ao final do filme e depois fomos para outra sala ver o pedaço que faltou. Quando eu olhei para trás para ver se tinha muita gente, eu vi um rapaz. E foi ai que eu conheci meu marido. Isso me marcou muito porque eu queria entrar, era muito importante aquele debate, mas o destino me levou para o outro lado, para os meus 42 anos de união.

Mais alguém de sua família estudou no Moura Lacerda?
Sim e foi de geração em geração. Eu já gostava muito do Moura Lacerda e saber que a minha filha também iria estudar lá, me encheu ainda mais orgulho. Ela se formou em Pedagogia em 2001.  Já meus netos chegaram a estudar em outras escolas, mas este ano pretendem mudar. Então fui ver para o mais velho o ensino médio e para minha alegria, soube que o ensino fundamental também passou para a Sede. Não tive dúvida, matriculei os dois.

Qual a mensagem de aniversário que você deixa para o Lacerda?
Que a Instituição continue sempre acolhedora e o ensino permaneça muito humano, para que as pessoas entrem e se sintam tão bem recebidas com eu me senti. Eu passo pra todos o que eu sinto por esta maravilha. Parabéns e muito obrigada, Moura Lacerda!


Documentos acadêmicos de Maria Aparecida Boraneli


Ludmila Patrícia de Souza (filha de Maria Aparecida e também ex-aluna do Moura Lacerda) com o reitor da Instituição, Dr. Oscar Luiz e Maria Aparecida Boraneli


Carteirinha escolar de Maria Aparecida Boraneli