Em outubro deste ano serão conhecidos os novos prefeitos e vereadores das cidades de todo o Brasil. Para que cada município progrida é necessário que a escolha dos representantes políticos seja realizada com consciência e estudo de cada proposta oferecida por eles. 

O “Fale Professor” desta edição convidou o sociólogo e professor do curso de Publicidade e Propaganda, Silas Nogueira, para comentar sobre a importância do voto responsável e outras questões relacionadas à cidadania.
 

O que é preciso ser avaliado em cada candidato?

A avaliação deve ser criteriosa. Um histórico do candidato pode ser o início dessa análise que mostrará a conduta e a trajetória política e pessoal do candidato ao cargo público. Necessariamente, o eleitor deve pensar nos princípios básicos do exercício político como a honestidade, a coerência ideológica e o respeito à transparência nos atos que envolvem a questão pública. No senso comum, se costuma afirmar que o importante é a pessoa e não o partido. Não é bem assim. O partido é um dos pilares da democracia representativa de origem ocidental. O partido também deve ser avaliado pelo eleitor pois cada partido tem uma conduta, tem um programa próprio e, principalmente, tem uma história, uma postura político-ideológica que demonstra a serviço de quem ele atua e os interesses de quem esse partido defende. Dessa forma, um bom candidato não escolhe qualquer partido para se candidatar. Assim, a avaliação do eleitor deve ser dupla, quanto ao candidato e quanto ao partido, pois, sem partido não existe candidatura. A coerência aparece quando a história do candidato e suas proposta são compatíveis com a história e o programa do partido por ele escolhido.

O voto não-obrigatório para os maiores de 16 anos foi instituído no Brasil em 1985. Você considera um avanço para a democracia? Por que hoje os adolescentes não se interessam em participar das eleições antes dos 18?

Representa sim um avanço pois há uma parcela significativa de jovens nessa faixa etária que possui um grande discernimento quanto às questões políticas e ao processo eleitoral. Não seria justo que fosse impedido de votar e participar do processo democrático via eleição. O interesse é relativo, ainda não é a maioria dos adolescentes que se engaja eleitoralmente. Mas, principalmente, nos grandes centros urbanos, já se registra significativa presença do voto desse segmento. É importa lembrar que a atuação política e a consciência da necessidade de participar nos rumos da sociedade não se limitam ao processo eleitoral. Várias outras formas de atuação política envolvem adolescentes e jovens particularmente nos chamados movimentos sociais, nas lutas coletivas por direitos e por mudanças na sociedade. Um exemplo mais amplo disso está no Fórum Social Mundial, evento cuja participação de jovens e adolescentes é intensa. Nos movimentos sociais, há também forte presença desse segmento nas lutas em defesa da ecologia, na luta pelos direitos à terra, nas lutas contra o racismo e a discriminação e nas demais ações contra a desigualdade e a exploração. A participação nas eleições é apenas um dos mecanismo que adolescentes e jovens possuem para expressarem suas posições e para interferir na história. Com o advento das chamadas redes sociais, mecanismos rápidos de comunicação coletiva, essa participação ganhou novos contornos, como pode ser visto no denominado “movimento dos indignados” na Espanha, na chamada “primavera árabe” no Oriente Médio e até mesmo nos Estados Unidos com o “ocupe Wall Stret”, uma clara manifestação contra a sociedade de consumo e capitalismo em geral. No Brasil, a participação juvenil é, em grande parte, ocultada pela grande imprensa mas em canais alternativos é possível verificar significativa participação, inclusive nos movimentos de resistência contra desocupações e desalojamento de moradores, como foi o caso do Bairro Pinheirinho, no Estado de São Paulo.

E os políticos jovens, têm colaborado para melhorias nos municípios ou no país?

Isso necessita de uma pesquisa em cada município e de um levantamento da ação dos considerados “políticos jovens”. A rigor, a idade não determina honestidade, não indica a existência de coerência político-ideológico nem a defesa dos interesses da maioria. Um jovem pode estar a serviço de interesses privados e particulares e atuar contra ideais coletivos e contra o interesse público. É comum ver jovens que, seguindo o exemplo dos pais, tornam-se candidatos apenas buscando enriquecimento pessoal, cargos públicos com altos salários e capacidade de negociação com as grandes empresas para favorecimento pessoal e eleitoral. Pode, por exemplo, propor ou votar a favor de um projeto que cause danos ambientais e destrua a natureza mas que proporcione grandes lucros a empresas privadas. Da mesma forma, um político não tão jovem pode ter uma postura mais progressista e atuar na defesa dos interesses públicos e coletivos. Dessa forma, a idade não é critério para se escolher um bom candidato. Para lembrar, Fernando Collor era considerado jovem quando se elegeu presidente do Brasil.

Você acha correta a reivindicação e a cobrança do cidadão com um político mesmo sem ter votado nele?

A cobrança deve ser de conduta e posicionamento frente aos grandes problemas sociais como qualidade de ensino, moradia, saúde, transportes, defesa da natureza e combate às desigualdades sociais. Nesse sentido, a cobrança se dirige ao ocupante de cargo público pois, nessa condição, o eleito deve satisfação a toda a sociedade e não apenas aos seus eleitores.