Arquitetos Ciro Pirondi e Vinicius Andrade têm linha comum sobre como a comunidade precisa participar de forma coletiva na construção de espaços públicos para que a qualidade de vida melhore

            Os arquitetos Ciro Pirondi e Vinicius Andrade, dois dos nomes mais importantes no Brasil atual quando o assunto são a organização e as soluções para espaços públicos, têm como proposta comum uma configuração mais humanizada para estas áreas. De acordo com eles, isso não acontece dentro das cidades contemporâneas, carentes de planejamento, que passam a assumir a desigualdade e segregação social como normais em sua estrutura.

            Eles ministraram de forma online, na última quinta-feira (27/05), a palestra “Conceber a Arquitetura para Espaços Públicos”. O evento foi uma promoção das áreas de Pós-Graduação e Atualização Profissional do Moura Lacerda e contou com a presença de profissionais da área, alunos e ex-alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário e interessados no tema. A mediação foi do também arquiteto Carlos Palladini.

Carlos Palladini

            Ao contrário do que muitos pensam, o espaço público, de uso comum e posse de todos, deve proporcionar um encontro democrático e de diversidade dos cidadãos, de forma a atender às necessidades da sociedade como um todo. Assim, a construção desses espaços precisa incluir a comunidade.

            Pirondi relata que a urbanização da sociedade aconteceu de forma desigual. “As cidades que nós gostaríamos não é essa que nós construímos. Nosso erro começou lá de trás, com a colonização. O conceito de centro e periferia precisa ser transformado. Nós precisamos pensar: como seria a nossa cidade desejada?”, pergunta o arquiteto.

Ciro Pirondi

            Com o crescimento de processos de urbanização aconteceu, gradativamente, um movimento de segregação social que é fruto da falta de planejamento na construção de espaços públicos e de políticas de controle. Houve má distribuição de renda e contradições, não só em caráter social, mas, também, de forma ambiental. “Para fazer progresso não é preciso destruir o outro e nem a natureza. Nós sabemos que não dá certo poluir os rios, mas continuamos a fazer isso”, afirma Pirondi.

Projetos e soluções

            Durante a palestra, os arquitetos mostraram projetos que trouxeram a inclusão das comunidades em suas construções e como isso afetou os resultados finais. O Pavilhão Social de Paraisópolis, por exemplo, do qual Ciro Pirondi fez parte da elaboração do projeto arquitetônico, foi uma possibilidade de transformar o espaço público em um projeto urbano e que atendeu as necessidades locais e teve participação popular.

            “Nós temos que desenvolver projetos juntos com a sociedade, com a demanda que é estabelecida naquele local. O que a gente precisa é dessa capilaridade, pois 85% da população não é atendida no que, realmente, precisa”, constata Andrade.

            Vinícius Andrade participa do desenvolvimento de projetos junto ao MSTC (Movimento Sem-Teto do Centro), da capital paulista, que tem o lema “Moradia como uma forma de cidadania” e prevê a criação de soluções que dialoguem com a pré-existência de edifícios, mas que estão abandonados. Essas reabilitações promovem nas áreas ações de lazer e cultura e outras atividades para aquela comunidade.

            Ciro Pirondi é formado pela Universidade Braz Cubas, doutor pela Universidad Politecnica de Barcelona, diretor da Fábrica Escola de Humanidades e diretor da Fundação Oscar Niemeyer. Vinícius Andrade é pela FAU-SP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), leciona na Escola da Cidade, é responsável pelo curso executivo Inovação Urbana no Insper e pela curadoria do 27º Congresso Mundial de Arquitetos – UIA 2020.

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